terça-feira, 5 de maio de 2009

Como as coisas são

Pra você ver como as coisas são. Viajei no último final de semana pra praia. Uma correria danada. Perdi o ônibus pra voltar pra casa, cheguei em casa no horário em que deveria estar na rodoviária, fiz o Eric (meu primo) correr com mochila de acampamento até a rodovia e cheguei 5 minutos antes do ônibus partir. Enfim, parti. Cheguei em Santos crente que estava em Praia Grande. Fiz "conexão pra outro ônibus e demorei 2 horas pra chegar em Itanhaém. Quando tava na pista, duvidei de uns prédios, que em segundos descobri que poderia ter descido ali. Mas fui pra rodoviária, peguei um taxi e fui pra colônia. Lá a primeira noite foi osso. Alergia ao cobertor, falta de ar e pernilongos a noite toda. No dia seguinte parecia um zumbi. Na chuva. Porque choveu o final de semana todo. Mas deu pra ver a praia, tomar cerveja na areia, rir das histórias da tia Izabel, conversar (e muito) com o Eric e andar de bondinho. Na volta, algo inusitado: voltei pra mesma rodoviária, e então descobri que estava em Santos. 2 horas antes do ônibus partir. Outro ônibus aguardava na plataforma. Corri no guichê da Cometa e a atendente realizou a troca das passagens. Pra mim e pro Eric. E alertou: "O ônibus de vocês não partiria daqui, e sim de Praia Grande". Ou seja, se não fosse a antecipação, ficaríamos lá o resto do dia. Mas aí a gente voltou. 2 horas mais cedo. Cheguei aqui e minha irmã me ligou: "A vó está mal, está no hospital. Está pedindo pra te ver". Gelei. Fui vê-la então. No corredor, a médica já adiantava: "Estamos fazendo o possível, mas pela idade não vai adiantar muito". Entrei no quarto e vi minha avó deitada, respirando com dificuldade. Segurei na mão dela e chamei "Vó, estou aqui. Vim te buscar. Vamos embora?". Ela só olhou pra mim. Não conseguia mais falar. Do outro lado da cama, minha tia Jane, triste. Minha outra avó entrou no quarto, e eu saí, pra descongestionar. Lá fora, enquanto esperava, conversando com a Rita, vi meu pai sair, triste e chorando. Ele chegou perto e falou baixo. "Morreu". Abracei-o, forte. Depois fui lá dentro. Abracei a Jane, que estava desolada. Olhei pra vó. Sem reação.
No outro dia, o enterro. Liguei pro vô Joaquim e pedi carona. Ele topou na hora. Fui dirigindo pra ele e pra vó Lourdes. É dois, agora são só vocês. No cemitério, várias pessoas da família. Mal cheguei no lugar e bateu um vendaval de entortar as árvores. Fui lá dentro, abracei as tias e a Jane de novo. Com certeza, a que mais sentiu a perda. Voltei lá pra fora. Não quis ficar muito em cima da vó pra não lembrar dela sofrendo. Experiência própria. Com o tempo, as lembranças ruins se vão, e só ficam as boas. Quero lembrar da vó fazendo bolo pra mim, me abraçando forte toda vez que me via, me beijando e gritando pra todo mundo "meu neto", me fazendo sentir o cheirinho de vó que só ela tinha.
No enterro, o caixão descendo, a Jane passando mal e minha prima lá de longe chegando correndo. Deu tempo.
E pensar que minha vó pediu pra me ver, pra ver minha irmã mais nova e minhas primas do coração. Por questão de tempo, só eu consegui chegar. A vó me esperou, como sempre. Representei as outras, olha só. Pra você ver com as coisas são.

Um comentário:

Cajú disse...

chorei :( muito bom!