"A caçada". Taí um filme que eu indico para todos assistirem. Principalmente para quem se formou, estuda ou pretende estudar jornalismo. É um prato cheio, a essência da profissão. Esqueçam apresentadores de telejornais, repórteres de celebridades ou coisa parecida. A realidade da profissão, que deve instigar todos aqueles que nela atuam ou pretendem atuar está sintetizada neste filme. O que me fez querer assistí-lo: A frase na capa do DVD: "Como eles encontraram um criminoso de guerra que nem a CIA conseguiu encontrar?".
Bom, vamos ao que interessa. "A caçada" conta a história de três jornalistas: Simon Hunt (Richard Gere), Duck (Terrence Howard) e Benjamin Strauss (Jesse Eisenberg). O primeiro, um ótimo correspondente de guerra e juntamente com seu fiel companheiro (Duck) faz as melhores coberturas em cenários caóticos no mundo todo. Porém um dia, diretamente da Bósnia, Simon tem um surto em rede nacional, ao vivo, e joga tudo pro alto. Como consequência, é demitido, e passa a vagar pelo mundo tentando vender alguma matéria para alguma rede de televisão.
Anos depois eles se reencontram, novamente na Bósnia. Duck agora é diretor dos cinegrafistas da rede de TV onde trabalha, e leva "a tiracolo" o foquinha Benjamin. Simon conversa com Duck e o convence a fazer a melhor matéria de todos os tempos: ir atrás de um criminoso de guerra, escondido nas montanhas dos Balcãs. Benjamin ouve tudo, e praticamente implora pra ir junto.
Antes, deixe-me ambientá-lo: A Bósnia fazia parte da antiga Iugoslávia, que era uma nação formada por outras "pequenas nações". Com a crise do comunismo, em 1991, as regiões da Eslovênia e da Croácia declararam independência e fizeram eleições presidenciais. Em 18 de setembro, seguindo o exemplo desses países, a Macedônia também declarou sua independência. Quase um mês depois, em 15 de outubro, a Bósnia-Herzegovina fez o mesmo. Em todos eles houveram conflitos, pois a Iugoslávia se recusava a reconhecer a autonomia dessas regiões. No caso da Bósnia, o governo foi concedido a um governante muçulmano, mas aproximadamente 33% da população do país era cristã-ortodoxa. A ONU (Organização das Nações Unidas) tentou intervir, mas de nada adiantou. Daí para uma crise entre a população e o governo foi um passo só, e o governo da Iugoslávia, liderado por Slobodan Milozevic, aproveitou pra fazer as "limpezas étnicas" que lhe bem entendia. O conflito só teve fim em 1995, quando a maior potência mundial, os Estados Unidos, interveio exigindo que Milosevic parasse. Foi o maior conflito étnico-religioso que ocorreu na região - foram mais de 250 mil mortos.
Voltando ao filme, a proposta de Simon era então ir atrás de um dos criminosos escondido em uma pequena cidade próxima a Sarajevo, a capital. A intenção é fazer uma entrevista com o "Raposa". Em um carro "emprestado pelo vizinho", um violão nas mãos e vontade nas cabeças, os três embarcam pela destruída Bósnia. Logo as dificuldades começam a aparecer. Onde o bandido está escondido, ele é praticamente venerado pela população local. Quem tenta se aproximar dele é visto com desconfiança por todos. Isso é percebido pelo garçom que atende os jornalistas na beira da estrada. "O Raposa está em todo lugar. Vocês não devem se aproximar dele", diz o cara, com afeição bem amarrada. Constantemente confundidos com agentes da CIA, eles começam a enfrentar verdadeiras dificuldades. A começar pelo agente da ONU, Boris, que mesmo com as credencias de jornalistas nas mãos, afirma que eles são da CIA. A polícia local pouco ajuda, e principalmente, pouco se preocupa com esses criminosos. A partir daí eles correm sérios perigos. Ao invés de caçarem o Raposa, eles passam a ser caçados por ele e por outros criminosos escondidos ali também. Não demora muito para que uma arma seja apontada para a cabeça de cada um. Mas a essência do filme está justamente aí: eles não desistem. Tá certo que há um segundo motivo pra isso, mas se visto pela ótica de Benjamin, o foquinha sem nenhuma razão pra estar ali, a profissão de jornalista é bem fundamentada. É ele que não deixa a peteca cair no momento em que eles estão com uma importante informante.
Enfim, quando encontram o Raposa, a situação é extremamente diferente. Não vou contar pra não estragar a surpresa, mas confesso que nesse momento do filme, é praticamente impossível não prender a respiração. O nervosismo dos personagens toma conta de quem assiste o filme.
O final dele no entanto foge um pouco das "regras jornalísticas". Confesso que se fosse eu na situação, não pensaria em fazer diferente, mas estaria praticamente rasgando o diploma que acabei de receber.
Fica a dica então para quem gosta de filmes neste estilo. A propósito, a história do filme é real, mas ao invés de 3 eram 5 jornalistas procurando o "carniceiro de Belgrado", ou Radovan Karadzic, um notório criminoso e sujeito diretamente responsável pelo assassinato e tortura de milhares de muçulmanos na região. O resultado foi publicado no artigo "Como passei minhas férias de verão" da revista Esquire (leia). O mais curioso do filme é a primeira cena, uma frase dizendo "Apenas as partes mais ridículas dessa história são verdadeiras". Tem como não querer ver depois disso? Abaixo segue o trailler.
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