O que define um livro como bom? Ou melhor, quem define um livro como bom? O próprio leitor? Se for o caso, defino aqui: O livro “A revolução dos bichos”, de George Orwell como bom. Aliás, muito bom.
Quando estava no ensino médio, recebi a recomendação de um professor de história para que lesse esse livro. Há algumas semanas, passeando por uma livraria, me deparei com ele, e resolvi comprá-lo.
O autor, George Orwell, é caracterizado por criticar regimes políticos em seus livros. Em “A revolução dos bichos” não é diferente. Neste caso, a crítica é contra o comunismo. Porém, usando de uma linguagem muito simples, e com personagens um tanto quanto engraçados, ele desenvolve uma trama bastante interessante.
A história se ambienta em uma pequena cidade rural no interior da Inglaterra. Cansados da exploração e da cobrança excessiva feita por seus donos, os animais da “Granja Solar” se revoltam, expulsam os humanos e instituem um regime igualitário e aparentemente honesto entre todos eles. O lugar passa a se chamar “Granja dos Bichos”, e fica sob a liderança dos porcos. São instituídos mandamentos definindo que “todos os animais são iguais”. O trabalho é dividido de acordo com a capacidade de cada um, e a fazenda começa a prosperar, mesmo sem a presença dos humanos. Aliás, os humanos e seus hábitos são duramente criticados, e proibidos de imitação.
Porém com o tempo, as coisas começam a mudar. Os porcos, cientes de sua grande inteligência e influência sobre os outros animais, começam aos poucos mudar o sentido das regras, para favorecimento próprio. Quem desconfia é convencido por algum deles que havia pensado errado. As tentativas dos humanos em retornar à fazenda, os contra-ataques dos animais e as brigas internas (entre os porcos) fomentam mais essa influência, que aos poucos começam a utilizar a força, com a ajuda dos cães, para instaurar suas decisões.
Percebe-se que a igualdade dos bichos então dá espaço para um certo tipo de ditadura sanguinária, onde aquele que se pronuncia contra é executado na frente dos demais. Os atos que antes foram condenados por todos, agora passam a se tornar comum entre os porcos, como morar na casa dos humanos, vestir suas roupas e até caminhas sobre duas patas. O medo é instaurado na granja, porém sempre com o clima de parceria e camaradagem. Os animais, o tempo todo, são induzidos a acreditar que os atos dos porcos são em benefício de todos. Inclusive o fato deles (os porcos) receberem mais alimentos que os demais animais, que são castigados pela fome e pelas estações do ano.
Em uma crítica muito clara, Orwell define cada animal como uma classe da sociedade. Os porcos são os políticos que aproveitam da inocência e até ignorância da população para instaurar idéias que beneficiam a si próprios, não permitindo sequer a liberdade de expressão. O cavalo representa a força bruta, o proletariado, que só sabe trabalhar, e não fazer mais nada. O burro, que no livro é retratado como um animal inteligente, não participa das discussões, preferindo ficar calado diante da ignorância dos demais. Os outros animais que são citados representam a parcela da população totalmente alienada à política, que só faz aceitar ordens e nada mais.
Os humanos, por sua vez, são retratados de forma muito vaga, e só ganham destaque próximo ao final do livro. E o diálogo entre os “duas pernas” e os “quatro patas”, conforme são citados no livro, é feito de forma natural, como se um animal tranquilamente conversasse com um humano.
No posfácio do livro, Orwell conta que teve a idéia de escrever esse livro após ver, em uma caminhada que realizava, um menino chicoteando um cavalo cansado. Cada vez que o cavalo diminuía o ritmo, levava uma chicotada. Ele pensou então que se aquele animal resolvesse se voltar contra o menino, facilmente venceria.
A forma em que o autor cria os diálogos no livro, e como retrata com riqueza a situação que se encontram os animais deixa o texto mais interessante, e curioso de se ler. A cada final de um capítulo, surge a vontade de saber o que acontecerá logo em seguida.
Porém em um determinado momento, a contagem do tempo fica mais acelerada, e o texto mais generalizado. É como se o autor tivesse cansado de escrevê-lo, e tivesse adiantado a história para logo chegar ao final. O destino de alguns personagens que até então eram importantes na trama é retratado de forma muito vaga, e em alguns casos, sequer são citadas. Os atos absurdos dos porcos não são mais questionados pelos outros animais, coisa que acontecera em todo o livro, e sequer uma justificativa é dada para isso.
Mas o final do livro é o grande trunfo da história inteira. Principalmente o último parágrafo. Ali é possível reconhecer sintetizada, toda a crítica que o autor quis fazer durante todo o livro. Não era exatamente o que eu esperava, mas fecha com dignidade o conto de Orwell.
Sobre o comunismo, lembro-me somente alguns detalhes que estudei nos tempos da escola. Após ler esse livro, ficou inevitável a comparação com o atual regime político brasileiro. Em escala extremamente menor, pode-se dizer que quem está no poder hoje, chegou lá prometendo igualdade entre todos, mas depois que conseguiu, mudou o discurso. Fico então no aguardo de um novo livro que conte a saga da “Granja dos bichos” em terras brasileiras.
Um comentário:
o ouro tb tem blogggggggg
vou adicionar no meu!
to com saudade
te amo.. bjimm
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