segunda-feira, 13 de outubro de 2008

São Paulo cega...

Na semana passada assisti "Ensaio sobre a Cegueira", filme dirigido por Fernando Meirelles. Tem como resumir o filme em uma única palavra? MAGNÍFICO!
Eu gosto do Fernando pelo fato dele fugir do convencional. Ao invés de ir para uma locação clichê e fazer aquela história bobinha, ele optou por São Paulo. Isso mesmo, a megalópole nem um pouco bonita. Foi até Higienópolis e ambientou algumas cenas lá. Depois foi até a Marginal Pinheiros e gravou mais. Pronto, o filme estava basicamente feito. Algumas locações no Uruguai e já tinha um material rico em mãos. Mas vamos ao filme então.
A começar que nenhum personagem do filme tem nome. A protagonista Julianne Moore é simplesmente a "esposa do médico". Mark Ruffalo é o médico. Alice Braga é a prostituta de óculos escuros e Gael Garcia Bernal é o canastrão. Pronto, o elenco principal já está definido. Meirelles poderia ter optado por um elenco mais "famoso", mas não, fugiu do óbvio. E com sucesso!
A história é basicamente a seguinte: um surto de cegueira toma conta da cidade (também se nome citado). Na definição do próprio "paciente zero", é como se todas as luzes estivessem acesas ao mesmo tempo. Todos que são "contaminados" são encaminhados para um hospital de quarentena, até descobrirem o que está ocorrendo. A mulher do médico porém é a única imune. Ela não fica contaminada, porém guarda o segredo com o marido, com medo de ser pega para "cobaia". Dentro do hospital a história se desenvolve. Aí é que a frase "quando o ser humano está em situações extremas, seu pior inimigo é ele próprio" faz sentido.
As rixas aos poucos começam a aparecer e o senso de justiça a sumir. Rivalidades, brigas, situações extremamente constrangedoras e até assassinatos marcam o local. Mais uma vez Meirelles inova ao não filmar por ângulos óbvios. Ora você vê as mãos dos personagens, ora simplesmente a sombra. Mas eles então saem do hospital e ficam vagando pela cidade. Aí é possível detectar São Paulo em peso. Ruas, encruzilhadas e até a nova ponte estão presentes. Não sei porquê, mas fico feliz quando identifico ambientes familiares em produções grandes.
Acho que a grande lição que o filme pode trazer é justamente a de que não existe pessoas boazinhas. A própria protagonista tem seus momentos egocêntricos e grotescos, mesmo ajudando secretamente outras pessoas.

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